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Apenas existir

Liberta-te dor!
Solta de mim esse peso
Afaga-me com sentimento a pele suada
E sob as cores de um horizonte esquecido
Lembra-te que foste até à beira do abismo
Lembra-te que todos os teus passos
Foram os meus pés que os caminharam
Todos os meus dedos que sentiram a textura do caminho
E a dureza da solidão

Por isso...
Por muito mais...
Livra-te de mim... dor!
Que o tempo que há...
Quero-o apenas para ser menino em ilusões
De felicidades e alegrias supremas
Sem espaço para dilemas nem questões....

Por favor!
Quero cair... aqui... inundado de ignorância
Com os olhos sem ver...
E a alma anestesiada... com as cores dos lírios do jardim

Por favor!
Quero um querer que não doa
Um estar que seja apenas estar...
Um ser que seja apenas existir...
Acordar, adormecer, comer, beber
E quando alguma dor surgir... morrer...!
Morrer entre os véus...
De uma musa que irei inventar
Quando a dor chegar
Aqui.

Até lá, tremoços, um copo cheio sobre a mesa e a singela alegria
De apenas existir.


Pedro Campos.

Porta n.º 53



Quando anoitece
Aqui estou eu
Uma vez mais sentado à porta
Número 53.

Sou eu ou tu,
Ou ninguém, talvez.
Sou o verso alado da esperança
Em que crê quem já não espera nada...

Assim, aqui...
Deleito-me a saborear
Aromas e paladares
De experiências feitas sem guia
E tu...
Trazes a comida...

Deslumbrante a pele
Divagante no sentir que mostras
Qual caravela flutuante
Em dossel de armadura bela

Acordo a pensar nesta certeza
Que o desenleio das minhas incertezas
Me leva até ti, doce desconhecida...

Tens voz doce e branca e sublime...
Como as lagoas de natureza viva à tua volta
Acariciadas por árvores que lhes definem fronteiras
E as protegem da sorte
Ou do azar...

Se eu pudesse...
Oh... se eu pudesse...!
Se fosse capaz de dizer-te quem sou
De falar-te do que vejo
Do que sinto
Do que quero....
Do que penso aqui...
Sob o firmamento...!

Se eu pudesse...
Mostrar-te a minha cor
E beijar-te com fulgor
Esses lábios de carne suculenta... pele clara.... em moldura negra...
Perfumados com aroma de amora e mel
Sob a sombra de um Alecrim florido...
Que desabrocha nesse canteiro adormecido
Frente à porta número 53...


Pedro Campos.