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Quando o tempo chegar


Como um assobio absurdo
Que sobra no ar do caminho
Não sou mais que um sopro leve
Vestígio ténue do vazio

Na janela da encruzilhada
O embalo subtil me embala
Sou talvez o teu diário
Que fechaste sem escrever nada

Quando o tempo terminar
E as folhas amarelas tu pisares
Serei menos que esse sopro
Menos que o respirar esquecido
Menos que o calor do grito

Quando o tempo terminar
Haverá apenas a certeza de que um dia fui
Absurdamente... nada

Quando o tempo terminar
Serei alguma coisa que passou...
Perto de alguma coisa que me viu passar...

Quando o tempo terminar
Serei tão somente a esfera mínima de força
O nano-universo último
A anti-matéria explosiva que sacudirá os mundos em mim

Quando o tempo terminar
E já não existir mais tempo para me queixar
Então recolherás as minhas folhas amarelas, a caneta perfumada e a solidão deixada orfã
À luz da manhã

Quando esse tempo chegar
Irás ler o que deixei
E entender que todo o caminho que percorri
Trouxe-me onde estou agora
À montanha imensa da verdade
Sem filtros a negar quem sou
Sem utopias a definir o destino
Serei apenas eu...
E o tempo que acabou!

Pedro Campos.

Contrário


Deleito o tempo aqui
Desfaço papoulas azuis em creme silêncio
Que o silêncio me eleva ao vazio

Aqui adormeço
Todas as noites como todos os dias
O poema absorto
Que a metáfora faz de ti
A metáfora

Sou louca de ternura
E sozinho me acompanho em multidão
Sou o expoente de não ser eu nem mais que eu
Eu só eu sou vazio
E sou neutro
De não ser nada
Do que os outros são

Sou o contrário de tudo...!


Pedro Campos.